segunda-feira

Pontuando

           Aos domingos eles tiram 50% da frota de transporte coletivo das ruas e parece que a noite a situação piora. Já fazia quase uma hora que ele estava esperando um desses passar por ali. Uma hora sozinho nos faz pensar em muita merda. Agora ele pensava naquela velha na tevê, com um consolo na mão a falar de orgasmos, penetrações, posições, óleos, ereções, lubrificações, ponto g...
            ... Será que existe realmente um lugar onde mora o g? Como um botão que é só tocar com o dedo que tudo se acende...
           Estava ali a pensar, parado, a espera do próximo ônibus.  Já era tanta espera e tanto pensamento que acabou por lembrar, de outra espera. Lembrou-se daquele, encontro nascido pela internet e crescido por celular, nesses encontros é mais fácil o vazio te cumprimentar do que alcançar o desejo almejado. Foi até lá no dia combinado, no horário marcado, com a roupa na cor dita e encostado como prometera. E ficou encostado por mais de três horas até que por fim desistiu e correu embora. Ás vezes os homens são mais canalhas que as mulheres mais canalhas, mas não dessa vez.
          ...Será que a idosa também marcava encontros pela internet e depois fugia ou nunca fugia de boa trepada...
          Sua mente esvaia-se na idosa que ainda tinha folego para o sexo, que ainda tinha fogo...
          - Tem fogo?
          Uma voz macia, porém em tom alto surgiu do lado oposto ao que ele olhava.
          - Tenho.
          Fez-se cinco segundos de pausa. Não sabia se a paralisia momentânea era por conta dela ou do susto. Não suportando a eternidade dos cinco segundos, ela disse ainda mais alto e maciamente.
          - Então me empresta!
          Outro susto.
          - Ah... tó.
          Ela taca fogo no cigarro como Nero em Roma.
          Aquela boca muito bem desenhada, volumosamente carnuda que ganhava ainda mais poder em função de um batom de cor tão única que ele não se atrevia a nomina-la, de súbito o logrou...  Até a palavra mais rude e escrota ficava musicalmente, insinuantemente envolvente saídas dela... Ela exalava sexo, uma aura totalmente sexy, sensual, sexual... Não sabia a função daquela hipnose, mas hipóteses já dominavam sua cabeça. As duas.
          - Valeu...
          - Oh...
          - Será que o ônibus vai demorar?
          - Acho que não, já tô aqui ha um bom tempo, acho que agora não demora muito.
          O cigarro sempre era um bom pretexto pra conseguir alguém, é melhor que uma cerveja – essa é traiçoeira e a gente sempre faz mais do que realmente queria fazer.
          ..Mas será que ele vai perceber que o cigarro é um meio e não um fim. Os homens são rápidos demais ou lentos demais, mas nunca são no tempo da excitação. Tantas vezes parecem jogar um outro jogo. Ele não para de olhar a minha boca, acho que está funcionando. Quero alguma coisa bonita nele pra olhar também. Os olhos. Os olhos são bonitos...
          Nestes, ela se fixou.
          - É uma droga ficar esperando, né?
          - Não se a companhia for boa...
          - É há pessoas que da vontade de aproveitar.
          - Aproveitar o que?
          - Aquilo que só aquela pessoa pode te dar.
          - Eu prefiro aquilo que eu quero dar do, que aquilo que eu posso dar.
          - Como assim?
          - Deixa pra lá.
          Ele disfarçou a timidez, girou a cabeça para os lados afim de, encontrar alguma coisa pra olhar que não fosse ela. Os olhos tinham vida própria. Estes giraram e estacionaram, de fronte a boca da moça. Sem saber qual cabeça estava a pensar, acabou por dizer:
          - E o que você quer dar?
          - Hei! Calma aí!
          ...É ele parece lento mais é rápido. Na verdade se ela demorasse muito a dar-se correria o risco de não dar-se. E o cigarro. O fogo. A conversa. O tom. O olhar... perderiam o sentido. Melhor dar-se rápido...
          - Foi mal, eu disse sem malícia...
          Desculpou-se pensando ter ofendido o anjo que queria pecar.
          - Que pena. Retrucou o anjo.
          - Que?
          - Melhor não...
          - Duvido que não queira.
          - Acho que talvez queira.
          - É? Então dê-me.
          Um a olhar a boca do outro como fosse a presença de deus, como fosse um nirvana em carne. Encarnou-se o instinto num beijo, na madrugada, numa rua deserta. Festa. Beijo. Boca. Mão. Mesmo de olhos fechados os dois procuravam um canto e o encontraram, rolaram para dentro deste. Parecia à entrada de alguma loja, com um toldo em cima de forma a bloquear a luz. Estava meio escuro. Os beijos já ganhavam a companhia de masturbações empolgantes. Tudo úmido. Todos úmidos. Unidos. E mais mãos. Apertões. Mordidas. Punhetas. Siriricas. E a boca a engolir tudo que podia. Cessaram-se os beijos. Agora uma boca a gemer e a outra a engolir, ainda engolindo tudo.
          Ele tinha certeza que aquela boca era divina. Realmente ali havia a presença de deus. Parecia o milagre da satisfação oral. A sucção durou por algum tempo. Depois ela se levantou levantando o vestido. Com um abraço mais apertado do que de um urso, ele a pegou por traz procurando se encaixar, achando o alvo com uma facilidade pródiga.
          Agora eram duas bocas a gemerem. Ela adorava a firmeza nas mãos dele a segura-la fortemente. Num clima tépido/molhado, solto/firme, mesquinho/entregue, eles perdiam o domínio de seu ser, dominando o ser do outro. Outro ser a ser dominado. Domínio: fruto de entrega. Mútua entrega egocêntrica a satisfazer todo ser em domínio entregue.
          As mãos apertavam cada vez mais fortes, até que tudo se molhou por completo. Completo frenesi esquizofrênico, mãos e braços a laçarem-se, sem saber-se de quem é o membro. Apertava com bruta delicadeza os seios dela, que não eram tão grandes e por isso mesmo cabia como luva nas mãos. Ela percebia que o gozo se aproximava devido à pressão vinda das mãos dele e assim forçava ainda mais seu quadril para traz com fome de acme.
          Muito perto da plenitude da loucura urbana ele gozou como quem abre um hidrante e ela ainda estava quase lá quando o ônibus apontou a esquina. Como um cão que larga o osso ele soltou o que não mais lhe pertencia e correu em direção ao ônibus que agora estacionava. Subiu neste tentando a todo custo fechar as calças, olhou para traz e viu a moça ajeitando o sutiã, ele forçou um sorriso, ela lhe mostrou o dedo do meio e o ônibus partiu. Pela janela do ônibus deu para ver a moça gritando, com uma das mãos com o dedo a mostra e a outra a suportar um dos peitos. A odeiou por um instante. Então percebeu que já estava com a mão no pau e chegou a conclusão de que mulheres tem dois peitos e homens tem um só. Devido as reflexões anatômicas: se lembrou da velha.
          Ainda no ônibus começara a ficar ereto. Não, não era por causa da velha. Talvez fossem resíduos de instintos contidos. O calor ainda o tomava.
          ...Devia ter ficado...
          Pensou em masturbar-se ali, mas conteve-se até chegar a casa. Assim chegando, foi despindo-se enquanto caminhava rumo ao banheiro. Chegando lá: ligou o chuveiro e entregou-se ao banho tépido e a masturbação. Empolgou-se no banho, só sentia-se bem sozinho. A solidão é a liberdade. E livre quase morreu de tanto punhetar o ego.
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...............................................................................Rene Xavier

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