quinta-feira

Sempre Mais do Mesmo

             

             De fronte a uma mesmice mercadológica, nos vemos pegos pela burrice ideológica, importadas em filmes hollywoodianos. É incrível o numero de comedias românticas, animações e aventuras teens que tomam os cinemas de Sorocaba e região na maior parte dos meses que decorrem o ano.
              Sempre visando o publico burguês juvenil, os cinemas nunca mudam sua grade por medo de perder a clientela, querem a certeza do lucro, por isso sempre oferecem mais do mesmo. Os contratos milionários que os cinemas fecham com as grandes distribuidoras (que são exclusivistas) impedem que a diversidade e multiplicidade de filmes circulem pela massa. Não há nem se quer variedade de gêneros, muito menos de etnias e nacionalidades, quase toda a grade de exibição dos cinemas é de filmes americanos, salvo por uma ou outra exceção nacional.
             O Filme “O Discurso do Rei” que é inglês, só passou em Sorocaba por concorrer ao Oscar, ou seja pela influencia do mercado americano, o que da na mesma! Nos cinemas brasileiros quando exibidos filmes daqui, vemos a tevê tomar espaço, temos a rede Globo em tela ainda maior. Boa parte dos filmes nacionais exibidos em salas de cinema são ou por inteiro ou por partes pertencentes a Globo Filmes que por sua vez acabam americanizando os filmes nacionais em suas produções com o uso de fórmulas em roteiros, estereótipos, tempo dos filmes, formação das personagens, planos, cortes... E quando não lucra com a produção (inclusive Lei Rouanet) lucra com a distribuição. A Ancine agora deu para se enquadrar nesses moldes e exige que filmes nacionais sejam filmados em padrões comerciais, ou seja, o cinema brasileiro com argumento yanke.
                    Creio que adaptar os nossos filmes em moldes americanos não seja a única saída para ganhar espaço. Mesmo no cinema comercial temos bons filmes franceses, russo, alemães, iranianos, brasileiros, italianos e mesmo americanos e por toda a parte do mundo que criaram formatos próprios e que são quase desconhecidos.
                   Mas esses pipoqueiros sedentos de lucro concentram se somente nas grandes bilheterias, “Se eu fosse você 2” ficou em cartaz por quase 3 meses em Sorocaba e isso não é raro, na verdade é regra. “Filmes como: “Harry Potter”, “A Saga Crepúsculo”, “As crônicas de Narnia”, animações como: “Madagascar”, “A Era do Gelo”, “Kung Fu Panda”, Carros”, “Rio”, são jogadas de marketing e não obras cinematográficas e nem devem ser respeitadas como tal. Não é de se estranhar se no shopping da sua cidade tiver um Mc Donald’s nas portas do cinema, essas animações são apenas um outdoor para vendas diretas e indiretas. Com uma mão reparte se o lucro e com a outra segura se o monopólio. Além de um monopólio econômico sofremos também uma hegemonia cultural, somos sem duvidas, um dos maiores compradores de cultura americana. E isso acontece não só por uma empresa e sim pelos acordos firmados por algumas delas, formando corporações monopolistas.
                  Ante a isso criemos nós um corpo ativo que aprecia e deseja filmes diferentes e com maior distribuição de produções diversas. Chega de pagar para ver filmes pobres que irão passar na tevê! E isso não só porque é um serviço pago, mas também porque um filme ajuda a nos construir e fica nosso inconsciente e não convém pagar para ser enganado e ficar burro. Forjemos um e vários espaços para o cinema verdadeiro e mesmo que seja comercial que seja pelo menos criativo e critico. Precisamos de espaço além dos festivais –que tem publico restrito- e que não tem força para enfrentar o aburguesamento da massa via ideologia dos americanóides.
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.......................................................Rene Xavier

terça-feira

Egos Libertos



Uma fresta.
Um fato.
Uma festa.
Um ato.
Uma faca.
Minha liberdade não esta no que eu falo,
Esta no que faço!
O meu altruísmo a mim não é bandido nem traidor.
Não me trai o meu texto.
Não subtrai o meu nexo.
Todo libertário é revolucionário...
Mas nem todo revolucionário é libertário.
Impor a liberdade não é ainda imposição?
A liberdade é mais furtada pelas palavras
Do que pelas armas.
                                     Acho melhor                                   
Agir antes
E falar depois:
Só pra não ficar preso em um discurso
Que eu nem fiz
Ou que nem queria ter feito.
O que se é tem menos a ver
Com o que se diz
Do que com se faz.
A pessoa mais importante do mundo pra você é você.
E não é assim mesmo que deveria ser?
Ora, o maior de todos os altruísmos
È senão em sua alma puro egocentrismo.
No fim:
Todo o seu agir é uma sentença,
Toda a sua fala é pura falácia,
Todo o seu pensar é de outrem.
Ser importante pra si,
Pode ser o primeiro passo
Pra se tornar dono
De si também.
Agora...
Talvez um cigarro,
Um escarro.
Um berro.
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Um teto.
Um tédio.
Um feto.
Um feito.
Um beijo.
Num veio.
Outro berro.
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Rene Xavier

Hoje Faria Anos

Nem todo lixo joga-se fora
E o que não é reciclável
Por vezes não vai embora
Por fezes fica até outra hora
Este entulho veio antes da construção
Antes da reforma, da revolução
Eu morre por vós
Nós morre pela voz

Hoje faria anos
O que me assusta
É que Nietzsche tinha razão
Ao tempo em que nem ligava pra ela
Ao tempo em que era tudo o que lhe restava
Ao tempo de começar sem esperar o que já acabava
Ao tempo de querer sol, luz, raio e rasgar a cortina da janela...
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..................................Rene Xavier

O Açucar que Faltava


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Há tanto tempo ando sem tempo.
Tendo de retroceder.
Tenho que correr pois, não posso perder
O trem que passa
E deixa o ócio pra corroer
Toda vida, toda graça.
E sem nada, sem estação alguma
Esta são minhas unhas,
Tão roídas e mordidas.
Cansando minha boca,
Distraindo minha língua
Quando estas não estão junto a suas.
Estou no quarto trancado, na sala suja...
Estou na tua mão e na tua boca úmida.
Minha blusa guarda o frio da tua rua
Em uma poça piso na lua.
Te vejo e não te falo...
Te falo, mas não te vejo...
É sempre mosaicos, pedaços
E quase nunca por inteiro.
Por isso escrevo: pra te trazer pra perto.
Mas, pessoas não são cadernos
Que se escrevem como se fossem eternos,
Mesmo assim nelas lemos
A infinidade de alguns momentos.
Pra escrever é melhor o céu
Onde eu posso redigir com mel... ou sangue
A eternidade do nosso instante.

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...................................................Rene Xavier

quinta-feira

Das Escolhas




Tudo quanto pode estar ardendo
Mesmo que me escolham todos os tormentos
Quero poder seguir podendo
Quero poder escolher a dedo
Deduzindo, intuindo, rindo...
Indo além do parapeito
Para tanto tem que haver peito
Pra dizer que aguento
Todo e qualquer unguento
Vivendo depressa o lento
Que passou correndo
Vendo lendo o visto
Vindo de além do inconsciente
Estendendo-se praquele  presente
Dos caminhos que poderiam ter sido
Doídos caminhos escolhidos
Encolhidos na dor de ser

terça-feira

Eqüidistante


Mas é que da ponte
Eu sou o rio
E rio chorando
A mesma piada cansada
Que me pede pra rir aquele riso de cansaço.
Dos pontos sou o traço,
E traço todos os pontos
E qualquer orifício exposto
Que seja o prelúdio pra minha introdução.
Introduzo-me em qualquer vão
Vão não é o que sou,
Quero estar dentro,
Quero estar no meio
De tudo que é distante:
Sou metade do nosso dialogo de harmonia dissonante
Sou metade do seu gozo egoísta,
Sou metade dista.

segunda-feira

Pontuando

           Aos domingos eles tiram 50% da frota de transporte coletivo das ruas e parece que a noite a situação piora. Já fazia quase uma hora que ele estava esperando um desses passar por ali. Uma hora sozinho nos faz pensar em muita merda. Agora ele pensava naquela velha na tevê, com um consolo na mão a falar de orgasmos, penetrações, posições, óleos, ereções, lubrificações, ponto g...
            ... Será que existe realmente um lugar onde mora o g? Como um botão que é só tocar com o dedo que tudo se acende...
           Estava ali a pensar, parado, a espera do próximo ônibus.  Já era tanta espera e tanto pensamento que acabou por lembrar, de outra espera. Lembrou-se daquele, encontro nascido pela internet e crescido por celular, nesses encontros é mais fácil o vazio te cumprimentar do que alcançar o desejo almejado. Foi até lá no dia combinado, no horário marcado, com a roupa na cor dita e encostado como prometera. E ficou encostado por mais de três horas até que por fim desistiu e correu embora. Ás vezes os homens são mais canalhas que as mulheres mais canalhas, mas não dessa vez.
          ...Será que a idosa também marcava encontros pela internet e depois fugia ou nunca fugia de boa trepada...
          Sua mente esvaia-se na idosa que ainda tinha folego para o sexo, que ainda tinha fogo...
          - Tem fogo?
          Uma voz macia, porém em tom alto surgiu do lado oposto ao que ele olhava.
          - Tenho.
          Fez-se cinco segundos de pausa. Não sabia se a paralisia momentânea era por conta dela ou do susto. Não suportando a eternidade dos cinco segundos, ela disse ainda mais alto e maciamente.
          - Então me empresta!
          Outro susto.
          - Ah... tó.
          Ela taca fogo no cigarro como Nero em Roma.
          Aquela boca muito bem desenhada, volumosamente carnuda que ganhava ainda mais poder em função de um batom de cor tão única que ele não se atrevia a nomina-la, de súbito o logrou...  Até a palavra mais rude e escrota ficava musicalmente, insinuantemente envolvente saídas dela... Ela exalava sexo, uma aura totalmente sexy, sensual, sexual... Não sabia a função daquela hipnose, mas hipóteses já dominavam sua cabeça. As duas.
          - Valeu...
          - Oh...
          - Será que o ônibus vai demorar?
          - Acho que não, já tô aqui ha um bom tempo, acho que agora não demora muito.
          O cigarro sempre era um bom pretexto pra conseguir alguém, é melhor que uma cerveja – essa é traiçoeira e a gente sempre faz mais do que realmente queria fazer.
          ..Mas será que ele vai perceber que o cigarro é um meio e não um fim. Os homens são rápidos demais ou lentos demais, mas nunca são no tempo da excitação. Tantas vezes parecem jogar um outro jogo. Ele não para de olhar a minha boca, acho que está funcionando. Quero alguma coisa bonita nele pra olhar também. Os olhos. Os olhos são bonitos...
          Nestes, ela se fixou.
          - É uma droga ficar esperando, né?
          - Não se a companhia for boa...
          - É há pessoas que da vontade de aproveitar.
          - Aproveitar o que?
          - Aquilo que só aquela pessoa pode te dar.
          - Eu prefiro aquilo que eu quero dar do, que aquilo que eu posso dar.
          - Como assim?
          - Deixa pra lá.
          Ele disfarçou a timidez, girou a cabeça para os lados afim de, encontrar alguma coisa pra olhar que não fosse ela. Os olhos tinham vida própria. Estes giraram e estacionaram, de fronte a boca da moça. Sem saber qual cabeça estava a pensar, acabou por dizer:
          - E o que você quer dar?
          - Hei! Calma aí!
          ...É ele parece lento mais é rápido. Na verdade se ela demorasse muito a dar-se correria o risco de não dar-se. E o cigarro. O fogo. A conversa. O tom. O olhar... perderiam o sentido. Melhor dar-se rápido...
          - Foi mal, eu disse sem malícia...
          Desculpou-se pensando ter ofendido o anjo que queria pecar.
          - Que pena. Retrucou o anjo.
          - Que?
          - Melhor não...
          - Duvido que não queira.
          - Acho que talvez queira.
          - É? Então dê-me.
          Um a olhar a boca do outro como fosse a presença de deus, como fosse um nirvana em carne. Encarnou-se o instinto num beijo, na madrugada, numa rua deserta. Festa. Beijo. Boca. Mão. Mesmo de olhos fechados os dois procuravam um canto e o encontraram, rolaram para dentro deste. Parecia à entrada de alguma loja, com um toldo em cima de forma a bloquear a luz. Estava meio escuro. Os beijos já ganhavam a companhia de masturbações empolgantes. Tudo úmido. Todos úmidos. Unidos. E mais mãos. Apertões. Mordidas. Punhetas. Siriricas. E a boca a engolir tudo que podia. Cessaram-se os beijos. Agora uma boca a gemer e a outra a engolir, ainda engolindo tudo.
          Ele tinha certeza que aquela boca era divina. Realmente ali havia a presença de deus. Parecia o milagre da satisfação oral. A sucção durou por algum tempo. Depois ela se levantou levantando o vestido. Com um abraço mais apertado do que de um urso, ele a pegou por traz procurando se encaixar, achando o alvo com uma facilidade pródiga.
          Agora eram duas bocas a gemerem. Ela adorava a firmeza nas mãos dele a segura-la fortemente. Num clima tépido/molhado, solto/firme, mesquinho/entregue, eles perdiam o domínio de seu ser, dominando o ser do outro. Outro ser a ser dominado. Domínio: fruto de entrega. Mútua entrega egocêntrica a satisfazer todo ser em domínio entregue.
          As mãos apertavam cada vez mais fortes, até que tudo se molhou por completo. Completo frenesi esquizofrênico, mãos e braços a laçarem-se, sem saber-se de quem é o membro. Apertava com bruta delicadeza os seios dela, que não eram tão grandes e por isso mesmo cabia como luva nas mãos. Ela percebia que o gozo se aproximava devido à pressão vinda das mãos dele e assim forçava ainda mais seu quadril para traz com fome de acme.
          Muito perto da plenitude da loucura urbana ele gozou como quem abre um hidrante e ela ainda estava quase lá quando o ônibus apontou a esquina. Como um cão que larga o osso ele soltou o que não mais lhe pertencia e correu em direção ao ônibus que agora estacionava. Subiu neste tentando a todo custo fechar as calças, olhou para traz e viu a moça ajeitando o sutiã, ele forçou um sorriso, ela lhe mostrou o dedo do meio e o ônibus partiu. Pela janela do ônibus deu para ver a moça gritando, com uma das mãos com o dedo a mostra e a outra a suportar um dos peitos. A odeiou por um instante. Então percebeu que já estava com a mão no pau e chegou a conclusão de que mulheres tem dois peitos e homens tem um só. Devido as reflexões anatômicas: se lembrou da velha.
          Ainda no ônibus começara a ficar ereto. Não, não era por causa da velha. Talvez fossem resíduos de instintos contidos. O calor ainda o tomava.
          ...Devia ter ficado...
          Pensou em masturbar-se ali, mas conteve-se até chegar a casa. Assim chegando, foi despindo-se enquanto caminhava rumo ao banheiro. Chegando lá: ligou o chuveiro e entregou-se ao banho tépido e a masturbação. Empolgou-se no banho, só sentia-se bem sozinho. A solidão é a liberdade. E livre quase morreu de tanto punhetar o ego.
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...............................................................................Rene Xavier

Lógica do Porre


Primeiro nasci
Decorei: não aprendi
Cortei bolo
Trabalhei um mês todo
Suportei a semana
Contei moedas na cama
Invejei como quem sonha
E fui ás compras
Pedi desconto
Nem te conto
Paguei uma fortuna
Comprei 900 ml
Nem cheguei na metade
Do impossível celeste
E já dispensei
Mijando um terço
Daquilo que
Em mim te sede.
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.................................Rene Xavier